Hoje gostaríamos de aprofundar a discussão sobre a relação entre a crise climática e a questão do saneamento ambiental, um tema urgente e muitas vezes negligenciado.
O saneamento é uma necessidade básica para a qualidade de vida, saúde pública e equilíbrio ambiental, mas em muitas regiões, especialmente naquelas que não possuem acesso à rede de esgoto, essa infraestrutura simplesmente não existe ou é ineficiente.
Quando decidimos mudar nossas carreiras e nos dedicarmos a um ideal, buscamos uma forma de atuar como agentes de transformação real, contribuindo para um modelo de sociedade mais sustentável e justa.
Foi a partir dessa reflexão que passamos a estudar e trabalhar diretamente com alternativas ecológicas de saneamento, pois percebemos o impacto devastador da falta de soluções adequadas para a destinação correta dos resíduos domésticos e da ausência de políticas públicas eficientes para lidar com essa questão.
Uma das realidades mais tristes que encontramos ao longo desse processo foi a precariedade com que o saneamento básico é tratado em muitas regiões.
Em grande parte do país, os sistemas convencionais não chegam até as comunidades e, quando chegam, muitas vezes não oferecem soluções eficientes para tratar os dejetos de maneira sustentável.
Como resultado, presenciamos diariamente rios, córregos e mares recebendo esgoto sem tratamento, contaminando ecossistemas inteiros e agravando a crise climática.
Essa contaminação causa uma série de problemas ambientais e sociais, afetando diretamente a biodiversidade, comprometendo a qualidade da água potável e aumentando os riscos de enchentes e alagamentos, que se tornam cada vez mais frequentes devido ao entupimento dos cursos d’água.
Além dos impactos ambientais, a falta de saneamento adequado tem consequências diretas na saúde das populações afetadas.
O contato com esgoto a céu aberto ou com águas contaminadas é uma das principais causas de doenças gastrointestinais, infecções, dengue, leptospirose e uma série de enfermidades que afetam principalmente crianças e idosos, que são os grupos mais vulneráveis.
Essas doenças poderiam ser evitadas com medidas simples e acessíveis, mas a falta de investimento e interesse governamental perpetua um ciclo de pobreza e exclusão social que impede o avanço dessas comunidades.
Outro fator que nos chamou muita atenção ao longo do nosso trabalho é que, nas regiões onde não há rede de esgoto, a solução mais comum adotada pelas famílias é a construção de fossas sépticas tradicionais. No entanto, esse sistema tem uma série de limitações e desafios.
As fossas enchem rapidamente, exigindo esvaziamento frequente, o que gera custos contínuos para os proprietários.
Quando não são esvaziadas corretamente, podem transbordar, contaminando o solo e lençóis freáticos, afetando diretamente a qualidade da água consumida pela própria comunidade. Além disso, a perfuração de poços próximos a essas fossas pode levar à ingestão de água contaminada, aumentando ainda mais os riscos à saúde pública.
Diante desse cenário, sentimos a necessidade de buscar e implementar alternativas viáveis e acessíveis para um saneamento verdadeiramente sustentável. Foi assim que conhecemos e passamos a adotar soluções como as bacias de evapotranspiração e os círculos de bananeiras, que são tecnologias ecológicas, eficientes e de baixo custo para o tratamento de efluentes domésticos.
A bacia de evapotranspiração é um sistema fechado e impermeabilizado, onde os dejetos são tratados por meio da ação de plantas, microrganismos e da própria evaporação da água.
Diferente das fossas convencionais, esse sistema não permite a contaminação do solo ou do lençol freático, pois toda a umidade é absorvida pelas raízes das plantas e devolvida ao meio ambiente através da transpiração.
Esse sistema é extremamente eficiente, exigindo pouca manutenção e eliminando odores desagradáveis, sendo uma alternativa segura e sustentável para residências, propriedades rurais e até estabelecimentos comerciais.
Já o círculo de bananeiras complementa esse sistema, funcionando como uma solução natural para o reaproveitamento da água cinza, aquela que vem do chuveiro, pia e máquina de lavar. Nesse sistema, a água é direcionada para uma pequena área circular onde são plantadas bananeiras e outras espécies que possuem alto poder de absorção.
Compreender e aplicar essas soluções nos mostrou que é possível transformar a maneira como lidamos com o saneamento, tornando-o um processo não apenas necessário, mas também regenerativo.
Em vez de simplesmente descartar resíduos, podemos reintegrá-los de maneira responsável ao ambiente, criando sistemas que beneficiam tanto as pessoas quanto a natureza.
A transição para um saneamento ecológico não é apenas uma escolha ambientalmente consciente, mas também uma questão de justiça social.
Muitas das regiões que não possuem acesso à rede de esgoto são comunidades periféricas e rurais, que há décadas aguardam investimentos em infraestrutura básica.
O saneamento convencional exige altos investimentos governamentais e, na maioria das vezes, a demora na implementação prejudica gerações inteiras.
Enquanto isso, soluções como a bacia de evapotranspiração e o círculo de bananeiras podem ser implantadas rapidamente e com custos reduzidos, permitindo que famílias tenham acesso imediato a um saneamento seguro e sustentável.
Nosso objetivo é continuar difundindo esse conhecimento e ajudando a transformar a realidade das comunidades que precisam de alternativas eficientes para o tratamento de seus resíduos. Sabemos que essa mudança depende de conscientização, educação e ações concretas, e por isso trabalhamos constantemente para levar essas soluções ao maior número de pessoas possível.
Se você deseja conhecer mais sobre saneamento ecológico e entender como essas soluções podem ser aplicadas na sua propriedade, estamos aqui para ajudar.
Acreditamos que cada pequena mudança pode ter um impacto gigantesco no meio ambiente e na qualidade de vida das pessoas, e estamos comprometidos em fazer parte dessa transformação.